
Com uma intro que podia muito bem ter sido Christina Aguilera a cantar (as parecenças vocais não serão uma novidade), "Marry the Night" mostra cedo que em Born This Way estão bem presentes os anos 80 vividos sob o efeito de canções de Belinda Carlisle, Kim Wilde ou Berlin (os eternos one hit wonders da canção do filme Top Gun ). A batida acelerada que entra aos 40 segundos, no entanto, avança alguns aninhos e aterra nuns anos 90 versão Snap! ou 2 Unlimited. Tem portanto, todos os ingredientes para soar mal. Mas o pezinho a abanar debaixo da mesa não engana. MRV
2. Born This Way
Continuamos nos anos 80 do século passado. Há ecos de hi-nrg e uma catrefada de efeitos eletrónicos sobrepostos. Esta é daquelas que só vai dar graves nas discotecas - e woofers a rebentar. Podia ser Pink. LG
A canção que dá nome ao álbum foi também aquela que o apresentou ao mundo. Demorou a entrar no ouvido, sem dúvida. Mas colou-se e agora não descola. É Lady GaGa chapa 4, mas não deixa de ter alguns ingredientes que lhe dão um sabor diferente (emprestados por Madonna?) e à medida que os dias vão passando, "Born This Way" afirma-se como um dos singles que marca - e bem - a colheita pop 2011. MRV3. Government Hooker
Arabescos vocais, tecno minimal, vocalizações dispersas na glória dicotómica da estereofonia. Podia ser Britney Spears. LG
Aqui, sem dúvida, há Madonna por todo o lado. A batida é difícil de resistir e a voz masculina grave que acompanha GaGa traz novamente à memória a trashy pop dos 90s. Os sussurros e vocalizações maquinais fariam Britney Spears corar de inveja. "Government Hooker" é uma tentativa de politizar o disco que só vai encontrar votantes na pista de dança. MRV 4. Judas
Foleiro, foleiro, foleiro. O início é um piscar de olho ao cadáver do primeiro álbum. Gaga canta como um cidadão jamaicano no regresso do dentista. Chega o refrão e os anos 80 com ele. Podia ser "Bad Romance". LG
Pode ser, à partida, o single mais facilmente "esquecível" da discografia de GaGa, mas novamente a pista de dança será o barómetro. Já dispensávamos era o sempre presente "Gagagagagaga". É por aqui que a fórmula se vai gastar. MRV 5. Americano
30 segundos iniciais em modo cabaré decadente e uma das sequências de "la la la" mais enervantes da história recente. O que se segue é uma canção meio cigana, meio mariachi, meio klezmer, com uma melodia que o signatário desta prosa conseguiria compor num velho Nokia 3310. Podia ser um instrumento de tortura. LG
Isto não é Lady GaGa, é GaGa Bordello. Se Eugene Hütz ouvir isto, o mais certo é exigir direitos de autor. Pop cigano. Será, com certeza, um sucesso entre as comunidades hispânicas/latinas espalhadas pelo mundo. O ritmo é enjoativo, mas o conselho é: se não quer ficar com o refrão na cabeça não ouça uma única vez. MRV 6. Hair
Começa a ser óbvia a tendência de começar canções com uma intro que promete uma coisa, mas afinal vai-se a ver e sai outra. Mas aqui não: aqui há um "oooohooooh" sentido, um teclado de organista de casamento e um saxofone vindo de 1987, e depois tudo ao mesmo tempo. O piano não desaparece, o refrão é rock FM chapado. Podia ser dos suecos Sounds. LG
E não é que o saxofone está mesmo na moda? Aqui estaria uma potencial balada, versão anos 80, que acaba estraçalhada por mais batida. E tudo isto numa canção sobre cabelo. MRV 7. Scheiße
Cantar em alemão por cima de electro bojudo dá sempre aquela impressão de que a coisa vai ser rude, pesada, cirúrgica, tensa. Mas o refrão é docinho, novamente a puxar à Madonna dançável (até no spoken-word) e a rigidez do alemão vai pelo cano. Pior é o zumbido industrial que fica na cabeça. Podia ser uma volta nos carrinhos de choque. LG
Depois de em "Bad Romance" ter arranhado o francês, aqui arranha o alemão. "Scheiße" é um tema que podia facilmente saltar do festival da Eurovisão para as pistas de dança. É também um daqueles que serve de entulho no álbum. MRV 8. Bloody Mary
Deus nos perdoe se o intro não parece uma versão compacta e minimal do intro de... "Papa Don't Preach", de vocês sabem quem. Mas é só o intro e, como é hábito, o resto aponta para outro lado. E esse lado é um exame post-mortem aos Modern Talking, euro-pop relaxada a pingar azeite que canta desde 1980 e qualquer coisa. Podia ser outra coisa e tal, mas não - tinha mesmo que ser isto. LG
Electro servido em modo calmo aqui. Depois de nos deixar com a cabeça às voltas com tanta batida, aqui parece que andamos em câmara lenta. É bom para variar, mas se isto é a balada do disco ficamos um pouco desiludidos. MRV 9. Bad Kids
Ah bem, electroclash motoqueiro - isto é novo. O início parece uma versão de trazer por casa dos Justice (eletrónica corpulenta que soa a guitarrada), depois entra a fórmula de refrão Gaga, a amansar o que veio atrás, como quem diz: "isto primeiro parece lixado, mas eu já vos dou o açúcar". Podia ser sábado... LG
Lady GaGa versão Screamadelica na curta - e novamente enganadora - introdução. Em "Bad Kids" esperávamos ouvir menos mel e mais fel, mas quando podia arriscar mais a verdade é que se encolhe e assobia para o lado. MRV 10. Highway Unicorn (Road 2 Love)
Começa com a força toda, vocalização histérica devolvida em overdubs . Pois, é só o intro. A seguir Gaga suja-se outra vez com eletrónica ziguezagueante, programações sintetizadas a arrancar umas atrás das outras, voz nasalada e... o refrãozito açucarado novamente em formato rock FM. Podia ser qualquer outra canção deste álbum. LG
O ambiente é sedutor, a batida contagiante mas não há aqui grande coisa que se destaque. Mais entulho. MRV 11. Heavy Metal Lover
Esta vem do subsolo, minimal, insinuante, vocoder lá ao fundo. Canta-se hálito de uísque, sangue, javardice, perfume. E damos por nós a achar alguma piada à progressão discreta, dissimulada, um pouco distante do efeito rabo-na-cara que está para trás. A piada esgota-se à chegada do refrão, novamente "vocoderizado", em regime Daft Punk desacelerado. Podia ser melhor. LG
Anos 90 em força novamente, com os Daft Punk a ajudar à inspiração aqui e ali. "Heavy Mental Love" parece querer enterrar a voz de GaGa num local qualquer inacessível. Não havia necessidade, a voz até é boa. MRV 12. Electric Chapel
Guitarrada agreste, sintetizador atmosférico, o galheteiro a escapar-se por entre mãos untadas e catrapum, lá caiu o azeite ao chão. Agora a brincar: a canção mais retro, mais obviamente influenciada por uns anos 80 em que tudo era possível, até os ZZ Top em versão electro. Podia ser uma daquelas análises que apitam por todo o lado quando se chega ao colesterol. LG
Intro rock, guitarra arranhada em loop. Faz-nos lembrar uma canção dos anos 80 mas não nos recordamos qual... "Electric Chapel" salta indecisa entre os AC/DC e "Voyage Voyage" (lembrámo-nos, entretanto) da cantora francesa Desireless (1986 é o ano). MRV 13. You & I
Começa sem peneiras, voz e piano e o que parece ser uma guitarra condensada. Rapidamente se transforma numa espécie de "We Will Rock You" meio gospel, meio soul. Há vestígios dos Queen, mas também de qualquer balada hair-rock dos oitentas. "You & I" é o táxi por que esperávamos numa madrugada de Santos Populares e pensávamos que já não chegava. É um Mercedes reluzente e novo, mas até podia ser um Citroën AX a cair de podre. É rock FM dos sete costados que parecerá a melhor cena de sempre depois de alguma cerveja. Melodia direta ao assunto, voz certeira, guitarra serpenteante. E é a canção que nos vai tirar daqui. Podia ser agora. LG
Num disco tão eletrónico, "You & I" é uma espécie de "penetra", muito desejado por uns, completamente indesejado por outros. A balada rockeira, que homenageia os seus amados Queen (Brian May na guitarra e tudo), agradará a outro público, não àquele que poderá vir a gostar de Born This Way . Podia ser um tiro ao lado se não fosse tão boa. MRV 14. The Edge of Glory
Eish, ainda falta uma - digam lá "epic fail". Prossegue o lado épico-glorioso, mas agora municiado por parafernália eletrónica. Canção ribombante, não espera muito pela explosão do refrão, sem um pingo de pretensão (desconfiamos?). É um cançoneta de rádio para ouvir entre a Pink e os Paramore. Começássemos nós pelo fim e Born This Way até merecia o benefício da dúvida. Podia ser um início de uma, vá lá, amizade engraçadota. LG
Pop sintética, com batida mais comedida, "The Edge of Glory" baseia-se com força num refrão histérico. Mais uma vez a Eurovisão ficaria bem servida com uma concorrente como esta. E lá volta o saxofone novamente. É um bom final. MRV
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